Paul Éluard: o surrealista francês que foi o grande “poeta do amor”
Nesta antologia, intitulada "O Homem Inaabado", surge o que Paul Éluard escreveu entre 1916 e 1936. A edição, agora lançada pela editora Exclamação, conta com tradução e notas de Regina Guimarães
Paul Éluard foi um grande “poeta do amor”, conceito hoje já quase anacrónico, um poeta dedicado, escreve Regina Guimarães, “às facetas irregulares do pensamento amoroso” e à descrição das “múltiplas roupagens do desejo”. E a verdade é que muitos desses poemas dos anos 1920 e 30 (esta antologia abarca o período 1916-1936) continuam memoráveis, mais do que a obra tardia, patriótica, empenhada e ocasionalmente embaraçosa, como a “Ode a Estaline”.
Os poemas de amor de Éluard são poemas de solenidade e alegria, de esperança e desesperança, de anáforas e metáforas, dirigidos a uma mulher “única” e “viva”, como se o amor fosse mais forte do que a morte: “De pé sobre as minhas pálpebras/ Com os seus cabelos nos meus,/ Ela tem a forma das minhas mãos/ Ela tem a cor dos meus olhos,/ E soçobra na minha sombra/ Como uma pedra no céu.” A faculdade de ver coexiste nos poemas com a opacidade do visível, a vida imediata com a distância, o conhecimento com a ignorância, e até os títulos exprimem essas contradições, tornando manifesto um programa. Regina Guimarães valoriza em Éluard tanto as “necessidades da vida” como as “consequências dos sonhos”, mas o seu interesse estende-se dos temas às formas, o que explica um elevado número de sequências, fragmentos e poemas em prosa, oníricos ou quase-narrativos, enigmáticos como um quadro de De Chirico. Lembrando o poeta amoroso, mais do que o comunista heroico ou que o surrealista que escreveu “a terra é azul como uma laranja”, esta antologia também se podia chamar, como num título de 1917, “o dever e a inquietude”, de tal modo vocação e angústia se confundem: “O que te digo não me muda/ Não vou do maior ao mais pequeno/ Olha-me/ A perspectiva não conta para mim/ Guardo o meu lugar/ E tu não podes afastar-te”. / Pedro Mexia
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